CAPÍTULO 15 - O Sobrenatural Me Aconteceu

Em minhas preces é a Ti, Santíssimo, que agradeço pelo sono que me acalentam as noites, porque se não fora Tua doce história, perceberia que o tempo corre contra mim, pois se não houver vida depois desse tempo, de nada serve o tempo além do que esperar amargamente pelo fim. Nada restará, nem a solidão nem mesmo o arrependimento, tudo está restrito ao aqui e ao agora, o passado passou e não mais existe e o futuro será a morte. Se Vós que és maior não existir, eu também não existirei algum dia, mas se Vós que sois além da matéria viver, então devo eu também viver não mais em carne. Nesse possível reencontro, o único que realmente importa é que minhas ofensas sejam perdoadas, porque quando errei faltava-me a convicção de toda Nossa existência futura, porém, nos dias em que me senti envolvido pela trama do Teu amor, procurei ser obediente a Teus preceitos e temente ao Teu desprezo.

A nós homens foram dados talentos, bem como o dever de multiplicá-los, mas é pela dúvida que distorcemos sua aplicação, pois a presença do enigma cria uma contraposição entre a força da fé e a força dos hormônios, já que somos incapazes de sentir um amor espiritual pleno e forte tal qual carnal. Nossas ações contradizem nossa fé porque já não somos homens feitos de Barros, então, ciente de nossas imperfeições e da tolerância de Deus perante nossas fraquezas, lícito é maximizar as potencialidades em que a vida deva ser vivida com alegria e euforia até onde não escandalize os olhos do Criador.

Espalho o sal para fortalecer a terra, porque o sobrenatural me acometeu várias vezes. Pedi ao Pai um novo nome para não escandalizar aqueles que conheceram meus defeitos; pedi permissão para divulgar da maneira mais extensiva e sem vantagens estas páginas do mundo; pedi para despertar o interesse pela verdade e pelas coisas ocultas que já devem ser evidenciadas, porque é chegada a hora de invocar a responsabilidade pela negligência às atribuições invocadas. Enquanto nada ocorria, pedi a Deus uma prova de que cem moedas atiradas ao alto caíssem do mesmo lado, mas Ele foi maior que minha pretensão, e me permitiu compor uma música, cuja probabilidade de sua sequência melódica é milhões de bilhões de trilhões de quatrilhões de quinquilhões de vezes superior comparada à probabilidade de que as cem moedas caíssem do mesmo lado. No braço do violão meus dedos alcançaram posições que nunca haviam ido, começando e terminando com o mesmo acorde, música de 44 notas que faz imaginar uma intrépida viagem com um pouso perfeito. Também ocorreu que essas palavras se incorporaram ao meu pensamento, mas não para serem guardadas, porque abrem portas que dão à luz, e se todos aqueles que atuaram no grande ato não puderam deixar de cumprir seu papel, também não poderia deixar de escrevê-las.

A primeira vez que fui tomado pelo sobrenatural contava 35 anos de idade, foi no quarto 10 do Hotel Samambaia de Guanambi/BA, quando já adormecido na madrugada, acordei com uma súbita vontade de escrever. Procurei lápis e papel e escrevi o pensamento que atonitamente me despertara numa única frase de duas linhas. Apaguei a luz, voltei a dormir e no dia seguinte após uma rotina normal, adormecido no mesmo quarto, outra vez acordei na madrugada com vontade de escrever. Procurei o papel da noite anterior e logo abaixo da primeira frase, pela segunda vez, estarrecido, escrevi o pensamento que novamente me despertara. Na terceira noite antes de dormir deixei o lápis e o papel na cabeceira da cama, disponível para anotações de mensagens que pudesse me acometer, e assim sucedeu. A partir de então já não acordava na madrugada para escrever, mas o fazia em qualquer lugar e em qualquer horário, bastando apenas um pouco de concentração para que os pensamentos fluíssem na minha mente. Após um quinquênio de reflexões que se sucederam dispersamente anotadas em pequenos papeis que abarrotavam quatro pastas, passei outro quinquênio escrevendo e classificando-os para montar um quebra cabeça da história humana, em termos poéticos, proféticos, passado e presente.

Fui dado a ler poucos livros, e mais a perceber a repetição estatística, porque o sentir é mais importante que o saber, pois o saber é formado pela técnica dos homens, enquanto o sentir é dom regalado por Deus. Vinte e dois anos foram necessários até que a sensibilidade fosse apurada e permitisse permear um estreito caminho por onde se equilibra o livre pensar. Apesar de gerar dúvida ao que aparentemente seria incontestável, resguardo o valor da fé dos homens por reavivar neles a incerteza, porque se certo fora a presença de Deus e do mundo espiritual ao qual imaginamos estar destinados, a certeza em si criaria um vínculo de obrigação, onerando as faltas por conhecer o que é esperado. Valorizo a fé dos homens, pois o homem que crê por falta de opção, crê por obrigação, mas aquele que acredita dispondo de uma segunda alternativa, maior é a sua crença e a sua fé porque pode escolher. Essa é a importância maior de toda a mensagem, de reavivar a fé para não destruir vossa alegria ao voar como pássaros em seu livre arbítrio.

Embora não tenha uma convicção inabalável e precisa do além, a forma como fui tomado a escrever tais pensamentos levam a crer que forças superiores tramam nossas vidas, porque conspiraram o desvario para que assim o dissesse, e ainda que me atestasse por insano venceria o medo de revelar. Há uma rádio que fala a voz do além e todos que filtrarem a obsessão da matéria a ouvirão, não com os ouvidos, mas com o sentimento, pois que não fala com palavras e sim com emoções. É uma rádio sintonizada pelo desapego, onde o desprendimento a faz sentir tão fortemente que vos despertará do sono profundo.

Novamente quero reafirmar que tal qual foi o fogo e a eletricidade, que determinaram passos marcantes na evolução da humanidade, vi no seu elemento comum uma terceira descoberta sumamente valiosa para a ciência dos homens: que num rasgo de luz se possa ver um mundo de luz. Essas foram revelações que me foram consentidas declarar, como também a época de minha partida, no aniversário de Heloisa, de Isabella e de outras pessoas que ainda hei de conhecer. Deixei fluir o espírito e retive o que foi bom, ordenando o cenário para todo aquele que preza pela coerência iluminar-se na investigação do mundo; muitas outras coisas também foram mostradas, não devendo as más citá-las para que não inspirem as mentes insanas, nem as boas para não desvalorizar as obras humanas.

A verdade é o caminho que a ciência não tarda por mostrar, pois a Boa Nova se sobrepôs a lei velha e sobreviverá ao tempo se legítima for. Particularmente, pressinto o sobrenatural, e é no Evangelho de Matheus e de João que quero moldar o meu espírito, pois estes falam daquilo que vivenciaram. Lembremo-nos que de tudo que foi permitido conhecer não nos é possível saber se somos o índio nativo, ou se somos o homem branco que chega do mar em seu navio, usando de artimanhas e ilusões para fazer crerem naquilo que não é real. Desfrutamos a inconclusividade e se torna irrelevante veracidar os Evangelhos, pois sua ocorrência não oferece garantia quanto a origem da força que o produz. Seja real para uns, ou ficção para outros, é a mais fantástica estória que a história humana contou, e tem legitimidade de ser O primeiro a Se anunciar, reclamando para Si toda propriedade espiritual. Assim, incerto ao que ocorrerá, caso alguma consciência nos restar, e se quiser a mim me encontrar, busca pelo nome do Santíssimo, porque é ali que também irei procurar.

O massacre dos inocentes e a crucificação tiveram de ser vasto em crueldade, para que o tempo não ocultasse da memória dos homens todo o sacrifício vivido, capaz de atrelar Filho e Pai em que Um profetiza do Outro. Como Guia, indicou que ninguém vai ao Pai senão através Dele, sendo Ele a lente que foca o Pai, único, perfeito e expressamente direcionado, enquanto os demais homens de todas as convicções e religiões são referências menores de conduta. Seu nome não foi citado, pois tudo em Si é santo, e é por estar ao Seu lado que clamo em minhas orações, porque Ele veio em nome do Altíssimo. Bendito Aquele que vem em nome do Senhor! João Batista que fora o maior entre os homens, poucos lhes alcançariam os pés, entre eles Simão Pedro, o apóstolo; a mim coubera atar as sandálias de outro Pedro*1, um que ata as sandálias de Jerônimo*2, sendo confiado amar e cuidar da filha de Pedro, para chegar ao fim da vida ao seu lado, quando diminuída as nossas forças, guardaremos para os últimos dias a confirmação de haver valido a pena.                 *1 Pedro de Faria, brasileiro, 1929 – 1995                       *2 Jerônimo Vieira dos Santos, brasileiro, 1905 – 1953

Obrigado Pai por documentar-nos perante o sobrenatural; obrigado Joana D’arc, pela mensagem que entregou aos seus amigos. Quem se doa para a humanidade presenteia a Deus, porque o mundo foi construído de doações, em que cada um doa do que tem para construí-lo e a cada dia basta o seu trabalho, pois numa colmeia as abelhas guerreiras não cabem trabalhar e as operárias tampouco guerrear; aquele que tiver de ler, o lerá, e o outro que tiver de fazer, o fará, porque todo castelo não é feito de um pensamento único, como o pensamento apenas não é capaz de construir o castelo. Para se erguer, é preciso compreender que a força dos homens está na união de suas forças, e que suas fraquezas já existem por si só.

Pai inunda meus pensamentos pelo vento, lava meus pecados pela água, floresce minhas sementes pela terra e reaviva minha alma pelo fogo. Livra-me das inquietudes terrenas porque Teu reino não é deste mundo, e de fato alguns viveram em jejum e outros levaram a vida sexualmente imaculada, sem com isso tomar o jejum e a castidade como alicerce de glória, porque a perfeição está além da abdicação carnal. Dediquei minha fidelidade ao fundamento da verdade, porque este é o alicerce onde sou capaz de encontrar ao Criador e à ciência, e posso garantir que até aos indesejáveis e aos inimigos não omiti a verdade. Mesmo me entregando a todos os pecados que possam caber nas duas mãos, não me caberá aflição, nem culpa que não possa remediar, porque os cometi para conhecê-los sem que nenhum deles tenha me agradado.

Meu compromisso é renovado com a verdade e com o conhecimento. O dominador prega a doutrina porque lhe é conveniente, mas o libertador ensina a ciência por acreditar que através dela com maior segurança se chega a Deus. Não lanço punhais para ferir o que seja sagrado, nem devo arrebanhar por uma nova ideologia, mas refletir a ideia vigente, a mais espetacular de toda a humanidade, abarcando a todos sem exceção, suprindo o vazio que a ciência ainda não ocupa, pois já houve Aquele que inspirou nossa jornada, uma trilha pela montanha da verdade, onde um ponto mais elevado e mais estável ao que nós encontramos nos aguarda, e ainda que não seja o topo, é para cima que caminhamos.


Obrigado Pai, por toda luz emanada!