CAPÍTULO 2 - A dívida social

De todas as possíveis formas de organização a espécie humana adotou o modelo pirâmide, de base larga formada por uma multidão sustentando um topo estreito desfrutado por poucos. Este é o modelo da desigualdade que converge abundância de recursos a uma minoria opulenta, advinda da escassez de muitos, que anonimamente subsidiaram uma casta empreendedora dos grandes passos de nossa história. Por si só o homem é frágil e incapaz, e somente em sociedade ele consegue se erguer, através do provimento obtido pela divisão desproporcional de seus frutos, onde a classe dominante abastada de recursos arrasta a classe dominada promovendo ações e inovações que levam ao avanço tecnológico.

Isolado na selva e solitário o homem não reunia condições de acumular conhecimentos, foi necessário o convívio grupal e a subsequente estratificação de classes para que uns não se preocupassem com a subsistência do dia-a-dia, e assim pudessem desvendar os segredos da noite. Esta foi a contribuição dos homens comuns que alavancou os homens de gênio, e que se perpetuou na memória transmitida de pais para filhos de nossas primitivas sociedades. Toda ciência foi conquistada pela criatividade individual de quem a produziu, mas corroborada pelo subsídio coletivo que surge no meio social alavancando empreendimentos, como força mantenedora proveniente da formação das classes. A natureza mirabolante inseriu como parte da estratégia humana a concentração de riquezas, em que uns se doam para outros se fartarem e assim se municiarem de amplos recursos para edificar nosso planeta. Este é um dos princípios existentes nas várias espécies vivas que sobrevivem em comunidade, a exemplo das colmeias e dos formigueiros.

A divisão equitativa do produto da sociedade propiciaria uma disponibilidade que, mesmo em tempos de boa safra, não alcançaria a plena satisfação individual de todos e consequentemente não geraria um excedente capaz de financiar novas empreitadas. Contrariamente, a divisão desigual alcança a satisfação plena dos que abocanham a maior parte, bem como o acúmulo de suas sobras, custeada pela insatisfação dos desfavorecidos. Mas é exatamente o acúmulo dessas sobras individuais que convence e leva tais desfavorecidos a realizarem as ideias e projetos dos detentores destes excedentes. Essa é a lógica capitalista que direciona os esforços humanos ao comando dos homens detentores de excedentes e de poder. E isso é perceptível no exemplo do descobrimento das Américas, pois só pela abundância de grandes reinos seria possível dispor de onerosos navios a se lançarem ao mar numa aventura incerta.

Mas muito antes disso, nossa história inicia pela formação de grupos que viviam nas savanas, num momento em que o homem era nômade e vagava coletando frutos naturalmente disposto na selva. Em determinado estágio descobriu a germinação das plantas e se aprimorou na agricultura, passando então a trabalhar a terra, se fixando a ela pela lógica de que era impossível transpor as benfeitorias realizadas para outra localidade. Esse estágio marca o início da propriedade e do acúmulo de capital, de quando passamos a ter mais do que podíamos carregar, e a fixação à terra foi o que levou seus fomentadores a construírem as primeiras formas de abrigo ao seu entorno, que progressivamente deu surgimento às primeiras cidades. Todo esse processo demandou certa medida de trabalho incompatível com a capacidade individual de execução, requerendo um esforço coletivo em prol de sua realização, pois embora a idéia seja pessoal, nascida da concepção individual é o acúmulo de excedentes, de força e de poder que forma uma liderança executora.

Todo esse caminho de transformação e construção se deparou com grandes dificuldades, produzindo divergências entre as castas inferiores e seus líderes, que tiveram o ditame de direcionar todo esforço à conclusão da obra, preterindo as necessidades individuais. Isso revela que o agrupamento social prosperou pela satisfação que gerava a comandantes e comandados, onde ambos perceberam o progresso produtivo e defensivo de sua simbiose. É pelo reconhecimento de uma situação vantajosa que os dominados continuaram agrupados aos dominadores, pelo reconhecimento de que se aqui está ruim, pior será lá fora, isolado na mata. Foi essa lógica que manteve os homens agregados em sociedade que como toda semente inicia pequena para então crescer.

Esta é a percepção de que as condições inóspitas quando moderadas levam o homem a uma reação e evolução, é o mal que produz o bem, pois se o mundo lá fora os acolhesse com fartura e calor, o homem viveria espalhado e estagnado. Foi necessário um mundo frio, faminto e perigoso para que a classe dominada se sujeitasse aos ditames da classe dominante, mantendo-os unidos e em progresso. Tal percepção é atestada pela subjugação dos povos de terras calorosas, dominados pelos povos de terras frias, sobre os quais a natureza impõe um ritmo coeso e de aceitação das diferenças pessoais, visto que o mundo exterior impunha maior dificuldade e flagelo, enquanto que aos primeiros a natureza benévola se abre para uma sobrevivência isolada, dando margem ao esfacelamento social.

Percebemos uma tendência de acomodação na índole humana ser mais decisiva que a disponibilização dos recursos naturais. A organização dos povos foi determinante para sua evolução, em que os grupos nômades se agregaram em tribos, que por sua vez formaram nações e evoluíram para blocos, para no futuro gerar unidade, essa é a tendência que observamos. Mas antes, muitas tarefas ainda estão por realizar, e até que estejam todas completas as pessoas continuarão arrastando suas vidas diante da miséria, sem imaginar a função da miséria na sociedade.

Não podemos esquecer nossa origem tribal e tudo que o homem construiu, porque para fazê-lo requereu um estado de necessidade, incômodo capaz de impulsionar as pessoas a saírem da normalidade de suas vidas e disporem seu tempo e seu esforço para servir, pois para que assim agissem, é porque saíram de uma condição rude de sobrevivência para alcançar outra melhor. Essa é a função da miséria, de promover uma força servil na construção do mundo, já que individualmente somos incapazes erguer os alicerces da nossa sociedade.

Desse modo, a miséria, a escravidão, e toda força capaz de estabelecer uma subserviência acorre como trampolim de recursos que a base da pirâmide social oferece, porque toda conquista demanda um esforço a ser pago pelo investimento que provém da acumulação anterior, e de sua consequente usurpação social, pela desproporção na divisão dos frutos, a fim de que se possa gerar acúmulo de riqueza, de força e de poder, capaz de financiar novas conquistas. Embora contida de egoísmo, esta é a lógica do nosso desenvolvimento: concentrar recursos nas mãos de poucos para que estes o detenham em abundância, e assim possam financiar suas obras que no decorrer das gerações construíram nossa sociedade alcançando níveis tecnológicos crescentes.

A concentração de riqueza é uma necessidade ao surgimento de novas riquezas, pois somente pelo acúmulo de capital um empreendedor pode arrebanhar auxiliares que o ajudem a promover novas empreitadas. Desta forma, a crítica socialista da desigualdade social perde sua validade totalitária para ser relativa, já que se a sociedade vivesse um coeficiente de Gini zero, sem desigualdades, não haveria concentração de excedente para promover novos investimentos.

Uma divisão equitativa da riqueza seria danosa ao crescimento econômico, uma vez que tais parcelas seriam usadas para suprir desejos individuais não preenchidos, tornando os homens mais saciados e independentes. Somente pela repressão forçada do consumo é possível formar um excedente de riqueza capaz de direcionar a forçados homens, pois é justamente a supressão dos anseios individuais que cria um estado de necessidade que move a ação humana para a construção de sua obra. Esse tem sido o modelo adotado no plano de crescimento econômico da humanidade, que tem produzido bens e serviços cada vez mais baratos e mais acessíveis a maioria populacional.

Inversamente, uma sociedade com um coeficiente de Gini unitário, de máxima desigualdade, também seria retrógrada pela excessiva concentração de riqueza em uma limitada capacidade de coordenação e execução de novas empreitadas. A demanda de novos projetos não prosperaria pela restrição empreendedora e o crescimento econômico ficaria limitado pela falta da capacidade de gerenciamento. Diante dessa exclusão de extremos, concluímos pela existência de um ponto ideal na concentração de capital, intermediário, que acuse o máximo crescimento da produção de novos frutos, conjugando o acúmulo de excedentes com a capacidade empreendedora de sua execução.

Tal pensamento abre horizontes a um termo moderado entre o capitalismo selvagem e o Estado social, dando-nos esperança de um capitalismo consciente, responsável, não importando a disparidade entre ricos e pobres, mas sim a maior velocidade na geração de novas riquezas, que prioritariamente servem aos abastados, mas não tardam por alcançar os menos favorecidos absorvendo-os no processo produtivo. Esse entendimento tonifica a urgência e a importância da inclusão social como o grande debate de nossa história econômica, e bem temos visto a superior qualidade de vida que operários de hoje desfrutam em comparação aos nobres e aos reis de outrora.

Por tudo que foi exposto, é possível agora aventurar o entendimento de que a premissa exclusivamente altruísta é contrária ao desenvolvimento da humanidade, pois a divisão equânime das riquezas anula o poder de comando do homem sobre o homem, corroendo o acúmulo e a escassez de bens que consagraria a barganha pela qual alguém obedeceria outrem. Tal premissa destitui a desigualdade e promove a independência das pessoas onde cada cabeça e cada pensamento age por si só, impossibilitando a coesão das ações sociais.

Antagonicamente a mesquinhez e o egoísmo são contributivos para o desenvolvimento social, pois cria a desigualdade entre homens promovendo líderes que comandam súditos na realização de seus projetos e caprichos. Portanto, a variedade na personalidade humana é outro fator necessário à construção de nossa empreitada, pois só pela junção de egoístas e altruístas foi possível armar o escalonamento social capaz de mobilizar esforços em sinergia. É o exemplo das pirâmides que nenhuma serventia apresentou à grande massa trabalhadora, contrariamente custou-lhes suor e sangue para se construir um dos maiores patrimônios da humanidade, que não são apenas pedras amontoadas nas areias do Egito, mas são ciência e tecnologia na realização de sua obra.

Outro fator necessário à construção de nossa sociedade foi a compensação capaz de acalmar a parte subjugada, um artifício indispensável à harmonia social, pois a realização das obras impõe uma relação de conflito que coloca em risco sua própria estabilidade. No passado todos os anseios foram aplacados por espadas e chicotes, mas o mundo moderno democrático requer outros valores para amansar a inquietude humana, assim, os ideais religiosos têm a premissa de apaziguar as relações interpessoais recheadas de injustiça, entregando a Deus e a um segundo momento qualquer ação de vingança que teria um componente destrutivo para o acúmulo necessário ao processo desenvolvimentista.

Também imprescindível foi a criação da linguagem que permitiu a compreensão e a acumulação do patrimônio intelectual, pela sua transmissão às futuras gerações. Mas antes de tudo, o ancestral do bicho homem precisou passar pela vivência da fase carnívora após a extinção dos dinossauros, com farta ingestão de proteínas para formação de um cérebro mais denso, com maior capacidade de processamento e pensante. Assim, percebemos que a ascensão intelectual humana é trabalhada pela natureza desde muito cedo, e a agregação social que construiu o mundo moderno passou por fases brutais e sutis. Também é notório que o planeta está por formar suas grandes cidades e todas precisarão do esforço humano em suas escavações e fundações, sobremaneira a inviabilizar o processo de acumulação de poder e riqueza, se não fosse pelo desprendimento servil da classe operária, que executará o que ainda há por se fazer, pela divisão da menor parte, suportando todo peso da armação social que lhe é imposta.

Seria preciso maliciar e ser maliciado, explorar e ser explorado para compreender a natureza criativa humana, bem como a essência do seu caráter, e entender que todo desenvolvimento ocorreu pela integralização dos proveitos individuais, porque se o bicho homem fosse desprovido de egoísmo e de crueldade, ou teríamos sido devorados por espécies mais cruéis, ou viveríamos, sem saber, um socialismo fraterno ainda em cima das árvores. A multidão se oferece a mais de um rei, porque está em sua vontade servir, para que os reis cresçam e se antropofajam em reinos maiores. Reinos que acumulam o desenvolvimento e o bem, para aquele que não é tão bom quanto si mesmo tomar, pois o mais perverso e o mais animalesco será vitorioso na batalha acumulando todo espólio.

Todas as guerras tiveram o mesmo motivo: de um lado, um líder, quer mais poder, do outro lado, outro líder, não aceita dividir este poder. Este é o princípio que desencadeou todas as guerras, que tem sua utilidade no estado de torpor necessário à renovação dos ideais de uma sociedade, pois muitos projetos não se viabilizariam em tempo de paz, somente pelo clima pavoroso da guerra são executáveis. Tais empreendimentos são executados segundo a calculabilidade do risco e do retorno, e os empreendedores que souberam bem avaliá-los foram consagrados em seus investimentos, entretanto, a guerra é um estado de necessidade que viabiliza projetos de retorno duvidoso que somente se justifica pela própria sobrevivência, resultando por trazer os correspondentes avanços de suas empreitadas.

Mesmo na guerra há de existir um empreendedorismo ávido na conquista do espólio, pois sua fundamentação está na recompensa que motiva a ação, e coletivamente pode trazer resultados prósperos como também retroagir conforme os caprichos do lado vitorioso; mas sempre traz um novo conhecimento social que se acumula e se guarda até que se estabeleça um novo reino de liberdade e valorização do bem comum. Nem todo empreendimento traz um benefício coletivo, pois eventualmente o proveito gerado é segmentário, e consequentemente autoritário, não duradouro, e será suprimido por um novo reino que surja tendo como cerne a liberdade e o bem comum. Isso pode ser atestado pelo naufrágio de todos os impérios marcados pelo autoritarismo ou pela corrupção, pois sangram o desperdício da energia de sua onerosa estrutura dominadora, e pelo esvaimento de recursos vitais da sociedade.

Para vivificar reinos e impérios precisou-se de uma sinergia de competências, motivadora da vontade humana na criação de riquezas, capaz de fomentar e fracionar a mercancia, impulsionando as atividades produtivas e comerciais. Partindo inicialmente do escambo que limitava a produção de bens à própria subsistência, passando pelos padrões monetários simbolizados por metais de indelével aceitação, alcançou-se o registro de créditos, em cédulas ou eletrônico, lastreados na produção de riquezas de sua sociedade.

A formalização dos meios de troca é mera convenção da engenhosidade humana, que cria um símbolo de aceitação no seio da sociedade, porque numa reflexão mais genérica que capital e trabalho, ricos e pobres, dominadores e dominados, a criação do dinheiro e do padrão monetário representou a democratização da capacidade de eleger os bens e serviços de melhor serventia. Nessa mesma analogia, as posses e o salário representam uma lei que rege do quanto cada um pode se servir destes bens e serviços. Esta lei coibiu a dispersão de riquezas pelo flagelo às multidões, para favorecer o lucro como incentivo das empreitadas bem sucedidas, e tudo que fizemos para alcançar nossa atual tecnologia foram empreitadas bem sucedidas; desde as primeiras caçadas, às primeiras cidades, tudo demandou certo investimento, até mesmo para inventar a roda tiveram de investir seu tempo e pensamento, pois era tudo que possuíam naquela época.

A trama do desenvolvimento novamente predispôs um elenco rico de personalidade, pois na variedade do caráter humano existem homens desprendidos da insegurança de viver, não acumulam riquezas e se contentam em estarem vivos no padrão econômico de sua criação. Há também os homens inseguros e doentes da usura que se satisfazem ao aumentar sua reserva de segurança, e a havendo saciado, surge nova necessidade dando sequência a um ciclo incessante. Embora vistos pejorativamente pela disparidade de suas extravagâncias, socialmente a importância de uma essência egoísta foi decisiva, pois só na pessoa do rico ganancioso poder-se-ia encontrar homem de um acúmulo de riquezas e com vontade de acumular mais. Essa riqueza acumulada equivale a um feixe de energia, uma força de comando capaz de direcionar e orientar a ação das pessoas, dispondo-as a seus ideais; às vezes úteis e às vezes pérfidos, em que o mal se cura, e o bem se acumula somatoriamente.

Parte do desenvolvimento humano está associada com acontecimentos negativos, pelo fato de que o mal acaba por realizar o bem, na medida em que cria um estado de ânimo para uma situação mais evoluída acontecer, pois foi assim que o processo de seleção natural das espécies promoveu sua depuração. Quando atuam moderadamente, servem como estímulo, quebrando a harmonia da existência tediosa pela qual o bem se acomoda e perde sua força. Porém, quando atua exacerbadamente, não sobrevivem para poder contar sua história. Seria como imaginar que o mal seja bom por desenvolver o bem, e o bem seja mal por se acomodar no bom. Tal correlação houvera mesmo em um tempo passado, quando se cultuava o mal por entendê-lo como fonte de evolução. Fundamentam que os índios viveram em terras generosas e férteis e que suas tribos celebraram a paz e alcançaram apenas o desenvolvimento do arco e da flecha, enquanto os povos carregados pelo frio e pela guerra foram forçados a desenvolver tecnologia para sobreviver e assim o fizeram, até conquistar o outro lado do oceano.

Ensaiou-se até uma apologia ao mal, pelo pensamento de que algo como a peste negra na Idade Média teria acarretado uma movimentação das camadas sociais da Europa para superar as dificuldades, ou que se um gigante asteróide rumasse em colisão com a Terra, as nações para sobreviver parariam seus jogos de guerra, e os povos unir-se-iam em engenharia e corações, pois ao se tratar da sobrevivência se perde a noção de nação e a razão prevalece sobre a emoção, porque o homem compreende que não pode haver pátria sem planeta.

No futuro as guerras perderão o sentido de existir porque o fruto de sua vitória é limitado às riquezas materiais que se possa conquistar, sendo sua serventia restrita à nação dominadora. Alternativamente, o esforço desprendido pelas nações em combate direcionado à pesquisa científica é ilimitado e favorece simultaneamente a todas as nações, pois este é o paradoxo do conhecimento, quanto mais se divide mais cresce. Breves observações nas contas de pesquisas científicas demonstrarão a inviabilidade dos confrontos bélicos, senão pela própria destruição, mas pela alternativa econômica mais rentável que a ciência oferece. Por ora, as guerras continuarão existindo até que um poder maior que o de um conjunto de nações se estabeleça e governe toda a Terra.

De certa forma a exaltação maligna teve sentido em época de pouca tecnologia e de pouca compreensão, tendo sua utilidade no processo seletivo das espécies, no qual o bem engorda e faz crescer, para depois vir o mal e depurar o melhor de sua essência; porém, sua virtude perniciosa se exaure na medida em que se atinge uma nova mentalidade, percebendo que seu desenvolvimento é lento pelo retrocesso para recomposição de sua própria destruição, enquanto que o desenvolvimento fomentado pelo bem é contínuo e age sempre somatoriamente.

O sentimento humano sempre foi extremamente imediatista, e nada que não lhe favorecesse desde o primeiro momento não subsistiria; esta é a razão porque sempre se gastou mais recursos com as guerras do que com as ciências e todas as nações que assim não procederam, sucumbiram. Os benefícios de longo prazo nunca valeram pela própria incerteza vigente, mas à medida que a ignorância cede lugar para o conhecimento, refaz o temor vigente em prosperidade coletiva.

Passamos por caminhos intrépidos como meio de controle das massas para construir o planeta e todas as instituições que usurparam as forças humanas nesse sentido arrastam a conivência daqueles que vivem e desfrutam este mundo moderno, pois a tecnologia que levou o homem à lua e construiu sofisticadas máquinas do nosso deleite estão lastreadas na exploração de castas. Em menor débito social se encontram os eremitas reclusos às épocas primitivas que vivem um tempo feudal, já que em menor escala desfrutam de tudo que foi construído pelo suor e sangue operário.

Portanto, existe sim uma dívida social para com as gerações passadas, cujas vidas dedicaram ao penoso labor; foi a resignação e doação destes homens no passado que impulsionaram as sociedades para alcançar nossa presente tecnologia e que proporciona o conforto desse mundo moderno. Porém, esta dívida é impagável porque os mortos não são indenizáveis, restando apenas a lição da contribuição que cada um pode deixar às futuras gerações.

Herdamos de cada ser vivido um tijolo que ora alicerça nossa estrutura social, mas hoje nos permitimos pensar que no futuro a base da pirâmide poderá ser dispensada para a sustentação do topo, pois se vislumbra que os próximos avanços poderão suprir as árduas tarefas na sustentação das castas superiores, que anseiam por reformularem-se de sua condição parasitária. Foi verdadeiramente um conflito do bem com o mal, passando por guerras e dominações e este é o conhecimento que quando ultrapassado permitirá novos voos.