A observação de que as galáxias se afastam levou os cientistas ao raciocínio inverso, de que um dia no passado estivessem todas próximas e agregadas em um só corpo, onde toda substância condensada em um minúsculo ponto gera infinita tensão que desagrega o próprio átomo e explode criando o universo. É a Grande Expansão, conhecida por big bang que desencadeia partículas subatômicas a se agregar vagueando pelo universo ausente de luz, delimitando o tempo e o espaço. Inicialmente formou-se o elemento primário, o hidrogênio, que atraído por seus pares agrupou-se em pontos espalhados, formando as estrelas para se fundir em hélio. É a matéria que se transforma em energia e se irradia ao mesmo tempo em que cresce sua entropia, desaparecendo a massa para dar lugar a uma enorme claridade. *Ver Karl Seagan e Stephen Hawking
Num universo agora cintilante as estrelas se aglomeram alinhadas em um mesmo plano para formar as galáxias, capturando meteoros e asteróides ao seu entorno que trouxeram do cosmo toda variedade de elementos químicos para iniciar a composição dos planetas. A um destes damos o nome Terra, que de configuração preliminarmente irregular, ganhou forma esférica à medida que crescia sua massa e aumentava a gravidade comprimindo-a para o centro.
A energia absorvida do choque de novos meteoros irradiou calor liquefazendo a matéria ferrosa inicial densamente concentrada em seu interior, e o atrito dos impactos seguintes gerou íons organizados na forma de corrente elétrica formando o campo magnético terrestre. Os cometas trouxeram também água em quantidade suficiente para formar os oceanos, rios, icebergs e todo vapor presente na umidade do ar, sendo a pressão e a temperatura atmosférica responsável por distinguir seu estado físico.
Inicialmente a Terra era bruta e estéril requisitando uma gama de casualidades para formação da vida, que passa pela combinação precisa do ângulo e da velocidade de entrada na órbita solar, a uma distância exata da estrela capaz de propiciar uma temperatura dentro da estreita faixa de liquefação da água. Também foi necessário um campo magnético para desviar os ventos solares e um eixo de rotação inclinado para formar as estações do ano, assim como outros planetas maiores à sua volta para proteger dos choques dos grandes asteroides. Tais circunstâncias em um ambiente de abundante massa orgânica e uma atmosfera carregada de íons foram condições necessárias e suficientes para ativar as primeiras enzimas pela sucessão dos eventos.
A matéria reagiu e compostos elementares como água, amônia e metano formaram moléculas de cadeias mais delicadas em meio a uma espécie de sopa pré-biótica*, criando aminoácidos e proteínas primárias que se agregaram sob um fluxo de reações de entrada e saída, formando processadores com afinidades eletroquímicas para reagirem com o meio ambiente. Descargas elétricas catalisaram as primeiras estruturas orgânicas independentes, que arrastadas pelas correntezas das chuvas e dos rios desembocaram no mar sistemas celulares simples, e que após seu descongelamento se espalharam e evoluíram em variantes espécies vivas dando origem aos dois grandes reinos, animal e vegetal. Os que extraíram do solo seu alimento, ali se firmaram, e os que capturavam comida do meio a sua volta desenvolveram calos, patas e punções para se locomoverem em sua busca. *Ver experiência de Urey-Miller
A cada ciclo as células se reproduziam distorcidamente, e por vezes formavam imperfeições mais frágeis que sucumbiam por sua própria fragilidade, mas ocasionalmente também se dinamizavam de complexidade com sofisticados comandos prevalecendo mais adequadamente ao meio natural. Numa sucessão de mutações formou-se o primeiro ecossistema onde sobreviveram os organismos que tinham maior percepção pela busca do alimento e pela fuga dos predadores, iniciando desde cedo a seleção da vida, onde os mais fracos serviram de massa orgânica para os mais fortes.
Os que foram dotados de metabolismo para processar o cálcio em cartilagens puderam crescer pela sustentação óssea do corpo. Os seres moventes criaram tentáculos, bem como um elemento de coordenação do qual se formaria o cérebro, ainda não pensante, mas com capacidade de gerir repetições. Também desenvolveram mecanismo de multiplicação que atraindo seus opostos se locupletaram pela união dos corpos, fluindo emoção pelas nevrálgicas ramificações, precipitando famintos hormônios que arrebataram o músculo de desejo, provocando êxtase decorrente do contato e da fricção, para então se acalmar após ter cumprido sua função ativando mecanismo de ejaculação. O precioso sêmen segue sua evolução gestacional garantindo o patrimônio genético que lhe conferirá semelhante forma e função, repondo na natureza aquele que era jovem e novo, mas que o tempo faz velho e antigo, frágil e morto.
Diante de circunstâncias diversas e seletivas, organismos rudimentares ganharam complexidade dotando-se de atributos e de sensores, originando ampla variedade viva em um meio oceânico protegido pela radiação solar menos intensa. Somente depois de longo período de exalação do oxigênio pelas plantas subaquáticas, pôde a estratosfera ser capeada do seu derivado ozônio, formado pelas descargas elétricas dos raios, e que serviu como escudo da radiação solar permitindo a emersão da vida para a superfície seca do planeta. Inicialmente o vegetal espalhou-se pelos continentes para que depois pudesse vir o animal; enquanto o primeiro constrói transformando o inorgânico em orgânico, o outro destrói ao alimentar-se de sua massa, convivendo num refinado equilíbrio que passa pela inversão de suas respirações.
As espécies se consolidaram a partir da perpetuação do gene mais adaptado; seria como se um rato mutante nascesse com dois rabos, e isso lhe desse maior mobilidade para apanhar comida e esquivar-se dos predadores. Alimentado e com mais virilidade exerceria seu instinto sexual transmitindo aos seus herdeiros o gene de duplo rabo, que no momento seria anomalia, mas que com a disseminação viria a ser a forma predominante, até que se extinguissem os ratos de um único rabo por sua lentidão.
Na verdade o que aconteceu foi o inverso: a natureza em suas variações gerou ratos de um, dois e três rabos, mas do equilíbrio do corpo, cabeça e pernas, o que resultou em maior força e mobilidade foi o rato de um único rabo, extinguindo os demais por sua menor proliferação. Da mesma forma a lagarta tem a cor da mata não porque ela seja inteligente, ou que a natureza seja benévola, ao contrário, a anatomia contemplou variadas cores em sua pigmentação, mas ocorreu que as lagartas de cores vistosas foram mais facilmente capturadas pelos animais predadores, o que inibiu as chances de repassarem seu gene até sua completa extinção.
De modo que a natureza existe no equilíbrio do que sobrou, e as espécies vivas vencem as adversidades pelo instinto da sobrevivência. Os pássaros possivelmente não sobreviveriam se não alcançasse em seu gene o instinto arquitetônico para construir sua casa e nela se abrigar. Em contrapartida, as espécies inaptas e frágeis foram exterminadas porque tais adversidades quando moderadas impelem o animal a uma condição de mudança e evolução, expurgando os fracos e mantendo geneticamente vivos os mais adaptados, porém, as adversidades quando extremadas perdem a função de refino e desmesuradamente abatem a espécie como um todo.
Aconteceu a vida antes sequer que os humanos existissem, e dada a impossibilidade de qualquer espécie racional avançar coabitando com gigantes carnívoros, faltava remover os animais de grande porte, que tiveram por finalidade preparar o planeta para uma maciça formação de proteína. Assim, há quase 65 milhões de anos a Terra sofreu o impacto de um asteróide, preciso em sua energia cinética que pelo choque levantou gigantesca quantidade de poeira na atmosfera, impedindo a penetração dos raios solares e consequentemente o processamento da fotossíntese na formação de massa orgânica. A diminuição das plantas promoveu o extermínio dos herbívoros, que consequentemente aniquilou os carnívoros e todos os grandes répteis, bem como quase 90 % da vida terrestre, permitindo sobreviver apenas os animais menores.
Somente após a extinção dos gigantes dinossauros pode o homem surgir na face da Terra, há apenas dois milhões de anos. Foi mesmo um processo laborioso da natureza que animou a matéria inorgânica gerando a vida, até que dela ascendesse a racionalidade e o pensamento capaz de ler estas páginas. É lógico pensar que o homem não surgiu estanque de um estalar de dedo divino, mas sim de uma evolução lenta e gradual em que o tempo é seu tempero e incorpora atributos, fazendo bípede o quadrúpede para manusear ferramentas, fazendo falante o grunhidor para se comunicar e repassar o conhecimento adquirido às gerações seguintes.
Para mensurar a escala temporal do universo nos valemos de vários métodos coesos, mas a radiação cósmica de fundo seria o mais preciso indicando presumivelmente ser 13,7milhões de milênios a idade do universo. A compreensão do tempo e do espaço fere a nossa sensibilidade, e por esta razão Carl Sagan dispôs a cronologia dos acontecimentos em um calendário cósmico, que se baseia na compactação desse tempo de existência condensado em um único ano de 365 dias.
01 MAIO 14 SETEMBRO 25 SETEMBRO 01 DEZEMBRO 20 DEZEMBRO 26 DEZEMBRO 30 DEZEMBRO |
GRANDE EXPANSÃO (Big Bang) CRIAÇÃO DA VIA LACTEA CRIAÇÃO DA TERRA INÍCIO DA VIDA SUBAQUÁTICA FORMAÇÃO DA ATMOSFERA COLONIZAÇÃO PLANTAS TERRESTRES SURGIMENTO DOS MAMÍFEROS FIM DOS DINOSSAUROS |
31 DEZEMBRO - 23:46 31 DEZEMBRO - 23:59:20 31 DEZEMBRO - 23:59:35 31 DEZEMBRO - 23:59:52 31 DEZEMBRO - 23:59:56 31 DEZEMBRO - 23:59:59 31 DEZEMBRO - 24:00:00 |
APARECIMENTO DOS HUMANOS DOMÍNIO DO FOGO DOMÍNIO DA AGRICULTURA CONSTRUÇÃO PRIMEIRAS CIDADES CONSTRUÇÃO PIRÂMIDES INÍCIO DA ERA CRISTÃ DESCOBERTA DA AMÉRICA HOJE - AGORA |
Se o big bang é o início de tudo sua ocorrência foi à zero hora do dia 1º de janeiro, e o agora é meia noite do dia 31 de dezembro; nossa galáxia teria se formado em 1º de maio, quase cinco milhões de milênios após grande expansão, e a Terra há outros cinco milhões de milênios mais tarde, em meados de setembro. Perto de 1º de outubro, passado mais quinhentos mil milênios a vida teria surgido debaixo da água sob a proteção do fluído espesso, e somente após três milhões de milênios mais tarde, em 20 de dezembro, teria emergido para a superfície seca do planeta. Depois das plantas vieram os répteis, seguidos dos mamíferos, para então surgirem os primatas, de cuja ordem derivamos.
Dentre as variantes que a vida formou, uma delas teria originado os mamíferos de quatro membros, de sangue quente e aparelho respiratório, dotado dos cinco sentidos e de outros instintos do qual teria se derivado o primata, pai de nossos ancestrais. Embora seja estranha essa nossa familiaridade com os animais, o fato torna-se incontestável pela extrema semelhança entre os DNA, numa igualdade proporcional a similaridade física.
Nossos microscópios constataram expressiva homogeneidade genética entre os humanos, os animais e as plantas, de modo que entre seres de uma mesma espécie as divergências não excedem a 1%. Embora ainda não se tenham encontrado todos os elos mutacionais, o traçar de uma curva genealógica pode demonstrar saltos evolutivos cadenciados, ao invés de induzidos e espaçados, levando a aceitar uma origem comum da vida, iniciada em uma época em que os genes eram praticamente iguais, de quando se formaram as primeiras células que com o decorrer do tempo e das radiações, diferenciaram-se nas diversas espécies.
Ainda que os animais sejam dotados de memória, de um entendimento e até de certa imaginação, ter-lhes-iam faltado elementos e circunstâncias para que alcançassem um corpo completo no conjunto de potenciais imprescindíveis para consolidar sua ascensão intelectual. A cada espécie pelo menos um fator específico estaria ausente, impedindo-a de elaborar sua capacidade pensante, pois a origem comum da vida se desdobrou em inúmeros ramos que se deram a experiências diversas forjando formas pela capacidade evolutiva.
Na natureza, há de se observar a maturação das gerações nas evoluções genéticas, pois o perfeito ocorre ora sim, ora não, combinando pelo tempo, até se formar em pura perfeição. Por hora, tudo o que existe, todos os animais e todas as plantas, existem do que sobrou, e a variedade de espécies extintas é muito maior que as vivas, demonstrando a suscetibilidade dos reveses. Em contra partida observando o reino animal, constatamos a existência de sentidos além da visão, audição, olfato, tato e paladar, dos quais somos dotados. Nos pombos percebemos seu norte direcional que os orienta pelo campo magnético da Terra, nos tubarões um sensor vibracional que capta energia vital das presas ocultas, nos insetos uma comunicação através da química dos odores, e nos morcegos uma capacidade sonar desenvolvida pela necessidade de se movimentarem na ausência de luz.
Também é notório o fato de que algumas espécies puderam desenvolver os sentidos contidos na capacidade humana com mais perfeição a que nos demos, a exemplo da córnea ocular da águia, da audição canina, ou do olfato do hipopótamo, pois assim como cada família animal possui limitações intelectuais, outros fatores se desenvolveram compensatoriamente em maior grau para garantir a sobrevivência na seleção natural. Essas observações dão a nossa imaginação a perspectiva deque os humanos pudessem ser mais que perfeito em sua trajetória de evolução. Super audição, super memória, e outros extraordinários talentos que deverão acontecer num momento futuro, fazendo despontar uma nova geração com extras poderes, simplesmente pelo fato de que a natureza é aleatória em gerar dádivas e mazelas, e foi através do acúmulo das benesses genéticas que os humanos alcançaram a majestade como ser dominante do planeta.
Quando a imaginação viaja no tempo, pode-se conceber o animal primata descendo da árvore; teve de ser bípede para poder manusear e desenvolver sua curiosidade. Possivelmente fosse inteligente como um golfinho, mas uma dieta rica em proteína e as condições reunidas em busca de segurança e alimentos propiciaram uma sequência de situações que acarretou a depuração dos de maior massa cerebral. Seguindo a viagem da evolução das espécies, é possível imaginar o homo sapiens na floresta em noite fria de chuva, correndo para perto do fogo de alguma árvore acertada por um raio, deliciando-se em volta da preciosa energia, relutando até o amanhecer para a chama perdurar. Primeiro aprenderam a preservar o fogo pela observação de que a insuflação o realimentava, para mais tarde alcançarem seu domínio.
Tiveram tanto fascínio pelo fogo que se embrenharam por seu calor e sua fumaça; ocasionalmente queimaram uma e outra galha, até que algum deles percebeu que certas plantas provocavam estado de riso e disfunções. Se a euforia era proveniente da inalação da queima, não tardou para idealizarem uma fogueira menor, de cuja base pudesse aspirar inebriante gases e possuir a mente dos mesmos efeitos. Assim nasceu o estudioso das plantas, que dispondo de abundante matéria prima e de uma vida inteira para aprender, acumulou conhecimento pelas gerações desvendando o segredo das ervas; e através de seus cachimbos mágicos, ainda que sativamente induzidos fizeram-se dotar de uma espiritualidade que fez ascender o pensamento como se saísse de si mesmo, imaginando ser um pensamento regendo o corpo, sem saber que é o corpo que cria o pensamento.
Foi pela visão de mundos coloridos que o pajé sempre habitou a cabana do cacique, e pela sua astúcia compartilhou dos mesmos requintes. Para proteger-se criou tramas, sustentou abstrações, fez-se ardil, usou fungos de psilocibina, ou cogumelos comuns, segundo seu interesse em gerar, ou não, um estado de torpor para invocar espíritos conforme seu desejo, mostrando-se íntimo e capaz de persuadir deuses à sua proteção. A partir de então, criaram confrarias e segredos que financiaram seus ideais e arrastaram a força transformadora através de seus líderes, guiando as massas, porque toda essa potência sem controle não seria mesmo nada, e de tudo precisaram para direcionar as multidões, para servir e construir o planeta, fazendo-as mais úteis e prósperas.
Uma espécie para alcançar a ascensão intelectual necessitaria de muitos atributos, pois os humanos tiveram também de ser sociáveis para se agruparem e guardar o conhecimento adquirido de geração em geração, até atingirem um estágio ainda rude, mas dotado de certo conhecimento sobre a natureza que acarretou procedimentos para sua melhor sobrevivência. O aperfeiçoamento de tais procedimentos por meio da busca permanente de uma técnica mais eficaz é o que nos teria trazido das árvores para as cavernas, das cavernas para as tribos, das tribos para as cidades e destas para compor o mundo.
Durante milênios de história tribal o homem trabalhou o artesanato e as ferramentas, domesticou animais e dominou a agricultura, até iniciar a edificação das primeiras cidades. O preparo e o trato da terra na busca de maior produtividade agrícola demandaram esforço e investimento que o arraigaram desviando de sua vida nômade, impondo sua fixação e viabilizando a construção de um centro comum, de um local de abrigo, que naturalmente evoluiu nos grandes centros urbanos. Apesar de este processo ter-se iniciado há muitos milênios, ainda vivemos o tempo de construção de nossa infraestrutura, mas com o alcance de avistar o final dessa grande obra, porque somos a geração marcada pelas conturbações, prontos para iniciar a próxima etapa de evolução do organismo social humano, em que os povos integrarão um comando único sobre a Terra, com vigor de uma única moeda, de um único idioma, de um único ideal, pois esta já é a tendência moderna que observamos.
O redirecionamento social em que se deixa de ser nação para compor um governo único tem como fundamento a justiça social e a dignidade humana, valores que inviabilizam o nascimento do Novo Estado até que as obras de infraestrutura de todas as cidades estejam concluídas. Ainda nos tempos atuais, o homem assiste inerte a uma dualidade entre as injustiças que financiaram o progresso e a sua vontade interior de melhorar moralmente, porém, a reformulação do homem só será alcançada quando o capital completar sua obra sobre a Terra e todas as cidades, estradas, pontes, túneis, represas, portos e aeroportos, palácios e jardins estejam construídos.
A realização de muitas dessas obras passa pelo crivo de seus custos para dar viabilidade econômica de sua execução, e somente após a desoneração de todo esforço braçal imposto a sua feitoria, poderá o Novo Estado nascer com sua sedutora proposta de justiça e dignidade para todo ser vivente sobre a Terra.